O povo que estava em busca de uma terra (…) luta agora pelo direito de garantir a vida.
E isso já é muito!
Nota de apoio aos índios Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul
Os povos indígenas no Brasil sofrem desde o período da colonização, ações de expulsão de territórios originalmente habitados por eles. Inicialmente pelos portugueses “colonizadores” do Brasil, seguido do período onde os bandeirantes exploraram o território, até um salto histórico aos dias de hoje, estes povos enfrentam a ira e escravidão impostas por um sistema político repressor, que desrespeita a relação destes com a terra e muitas vezes, em grau de maior gravidade, o direito destes à vida. O enfrentamento antigo provocado pela ira e escravidão dos “colonizadores” do Brasil mantém-se vivo, hoje substituído pela ira e escravidão impostas pela especulação de madeireiras, pelo agronegócio e por empresas exploradoras de recursos naturais, em nome do capital.
Os índios Guarani- Kaiowá que atualmente ocupam o território correspondente ao sul do Estado do Mato Grosso do Sul, representam hoje mais uma vez, a necessidade de enfrentamento de uma condição crítica de massacre e luta pelo direito por seu território. Em uma cosmologia que representa a terra como sua vida, sua identidade, sua história, a retirada deles deste território, significa a pior das mortes: a morte social, imposta pelo capital, a morte do sentido de sua existência. Assim, enquanto as questões da terra continuarem sendo tratadas de modo arcaico pelo Estado brasileiro, onde a legislação não respeita a cultura e relação deste povo com a terra onde nasceram, vivem, suas origens, todas as instâncias federativas do país poderão burlar os direitos dos povos indígenas, alegando que irão realocar essas populações em novos territórios, escondendo em seus “laudos oficiais” conflitos, impactos e o genocídio provocados por esta medida. A qual não está ocorrendo isoladamente, na relação com o povo Guarani-Kaiowá, mas também com cerca de 30 populações indígenas habitantes do território da Amazônia, por exemplo, na construção da Usina de Belo Monte, onde as lideranças indígenas se organizam políticamente na defesa de suas terras.
O DCE da UFPR (Gestão Nós Vamos Invadir sua Praia) enquanto entidade representativa do movimento estudantil, se coloca a favor das populações indígenas, na defesa de seus direitos, na luta pela sua sobrevivência. Acreditamos que em nenhum momento o capital deve se sobrepor ao direito, cultura e dignidade estes povos. Enquanto movimento social, compreendemos a relação íntima entre os acontecimentos que os envolvem e o impacto provocado diretamente na Universidade, visto que a comunidade acadêmica tem em suas mãos o poder de intervir politicamente se posicionando, ou se mantendo calada pela manutenção do sistema vigente. Além disso, a Universidade necessita ser democrática, multicultural e respeite todos os habitantes do Brasil, independente da sua cor, religião ou etnia.
Assim, em especial à situação vivenciada pelo povo Guarani-Kaiowá declaramos que somos a favor de que estes sejam mantidos em seu território, demarcado legalmente e sob proteção do Estado para que seus direitos sejam garantidos. Contudo, ampliamos esta necessidade para além, na revisão de como as pautas indígenas foram tratadas até hoje pelo Estado brasileiro! Como movimento social sentimo-nos integrantes desta pauta, porque através dela, discute-se a concepção da sociedade que vivemos e a sociedade que queremos construir, transformando-a para além: uma sociedade mais justa, igualitária e que atenda às necessidades de todos aqueles que nunca tiveram vez e voz diante do Estado e da mídia, que cala-se diante deste assunto, por atender a outros interesses, que estão longe de ser aqueles que relacionam-se com os interesses e necessidades do povo brasileiro.
Portanto, convidamos a todxs para participar da mesa que trata desta temática na semana do dia 5 a 9 novembro, como espaço de diálogo e construção desta pauta no movimento estudantil. Fiquem ligados, em breve mais informações!
“Eu dou um recado para vocês brancos, para que não poluam os rios. Porque isso vai afetar o futuro não só dos índios mas dos filhos de vocês também.”
(Aritana Yawalapiti ; liderança etnia Yawalapiti, do Mato Grosso)
“Antes nós não sabíamos que tínhamos limites, só sabíamos que tudo era floresta… Agora demarcamos nossa área porquê é só o que sobra dos lugares antigos.”
(Kumai ; indígena etnia Waiampi, do Amapá)
“No dia em que não houver lugar para o índio no mundo, não haverá lugar para ninguém.”
(Aílton Krenak ; indígena etnia Krenak, de Minas Gerais)
“Não digo: eu descobri essa terra porquê meus olhos caíram sobre ela, portanto a possuo. Ela existe desde sempre, antes de mim.”
(Davi Yanomami ; liderança etnia Yanomami)
“…Esta terra, aqui, era nossa. E agora eles comeram. Agora está tudo feio. Eu estou triste de ver o que foi feito aqui, o que a mão do branco fez. O lugar onde eu nasci. Destruíram tudo. Isso aqui era parte da nossa terra. Aqui, era uma terra boa. Eu não gosto do trabalho dos garimpeiros. Vocês mataram a floresta. O rio acabou. Acabaram os peixes. (…) Por quê o chefe de vocês mandou destruírem essa terra ? O chefe de vocês tem que entender que vocês não podem ir pra nossa terra. Eu não gosto de destruição. Eu não gosto disso aqui não. Eu nasci aqui. Eu caçava aqui. Pescava aqui. Aqui, era minha terra. Não é a terra de vocês. (…) Olha essa terra aqui. Eles comeram o lugar onde eu nasci. Tudo acabou. (…) Eu vou explicar pro chefe dos brancos que vocês acabaram com tudo, com a floresta e com a água.”
(Aké Panará ; liderança etnia Panará. Em 1974 esses índios foram transferidos de sua terra original por causa da construção da rodovia Cuiabá-Santarém. Dezoito anos depois, Aké retornou à sua terra, uma floresta que se transformara num garimpo abandonado, e não conteve seu desabafo.)
“… a preservação da cultura indígena, em vez de barrar o progresso, como dizem alguns caçadores de índio, estará salvando nosso país da destruição de muitos valores, provocada por essa selvagem civilização tecnocrata.”
(Margarida Tapeba ; professora indígena da etnia Tapeba.)
Curitiba, 28 de outubro de 2012
Gestão Nós Vamos Invadir Sua Praia 2011/2012
DCE UFPR